quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Um pouco sobre a vida e obra de Carlo Ginzburg

por Charles Moisés Müller

O historiador italiano Carlo Ginzburg, especialista na análise dos processos da Inquisição nos séculos XVI e XVII, é conhecido do público brasileiro por seus livros O queijo e os vermes (1987), Os andarilhos do bem (1988) e Mitos, emblemas, sinais (1989), todos traduzidos e publicados pela Companhia das Letras. Professor da Universidade de Bolonha e da Universidade da Califórnia em Los Angeles.

Nasceu em Turim em 1939, numa família de judeus assimilados e intelectuais, tanto do lado paterno quanto materno. Seu pai era professor de literatura russa, mas em 1932, quando os fascistas exigiram que os professores jurassem fidelidade ao regime, pediu demissão. Em 1934 entrou na conspiração antifascista e tomou-se líder de um grupo em Turim que tinha ligações com a França. Foi preso e passou dois anos na cadeia. Quando saiu, foi um dos fundadores da Editora Einaudi, junto com Cesare Pavese. Logo depois que começou a guerra, em 1940, como era muito vigiado, foi confinado numa cidadezinha nos Abruzzi. A família foi junto, e passou sua primeira infância, até 1943, nesse lugarejo. Nesse ano o rei destituiu Mussolini, e seu pai voltou para Roma, que estava ocupada pelos alemães. Sempre ligado à conspiração antifascista, foi preso e morreu na prisão alemã em Roma em 1944.

Sua mãe, Natalia Ginzburg, Levi em solteira, era filha de um histologista muito conhecido e importante, professor da Universidade de Turim. Três dos alunos de seu avô receberam o prêmio Nobel, o que é um número significativo.

Depois da guerra, sua mãe recomeçou a escrever. É uma romancista muito conhecida, e seus livros foram traduzidos em vários países, inclusive no Brasil. Também escreveu para teatro e tem um livro chamado Lexico familiar, uma espécie de autobiografia, uma história de sua família, em que ela própria aparece pouco, mas fala do pai dela e dos outros.

Começou seus estudos em Turim, depois Roma, e fez a universidade em Pisa, na Scuola Normale Superiore, que era uma espécie de cópia da École Normale Supérieure francesa. Era o mesmo tipo de instituição, extremamente seleta do ponto de vista cultural, com um rigoroso concurso de admissão. A escola oferecia seminários nas áreas de matemática, física, letras ou humanidades. Não eram ciências humanas, porque não havia sociologia ou antropologia. Mas havia história. Acontece que os alunos da Scuola Normale seguiam também os cursos da Universidade de Pisa. Além dos exames na universidade, havia os seminários da escola, era um programa muito puxado. Ele freqüentava a Faculdade de Letras e Filosofia da Universidade de Pisa, mas fez sua dissertação em história.

Obras:
O Queijo e os Vermes, Baltimore, 1980;
A Noite das Batalhas: O Feiticeiro e o Cultivo Agrário nos Séculos XVI e XVII, Baltimore, 1983;
O enigma de Pierre Dell França, Londres, 1985 (Edição revista, 2000);
Guias, Mitos e o Método Histórico, Baltimore, 1989;
História Noturna: decifrando o Sabá, Nova Iorque 1991;


Bibliografia:
www.cpdoc.fgv.br/revista/arq/78.pdf

http://www.sscnet.ucla.edu/history/ginzburg/

Volta as Postagens

Olá pessoal, estamos de volta com as postagens, paradas por alguns dias...

Tanto eu como a Claudia estamos passando por momentos conturbados em nossos estudos, ambos com a monografia (TCC: Trabalho de Conclusão de Curso) para fazer além das outras disciplinas que estamos fazendo, diga-se de passagem que eu estou com 11 e a Claudia com alguns projetos para horas de História e mais 7 de Psicologia, ela é uma moça muito versátil... e tá com o projeto do mestrado. Eu estou pensando seriamente em deixar o meu mestrado para o ano que vem.

Só não pensem que a monografia é tão fácil assim... é como um filho para nós... pois para telo, passamos por momentos de dor e sufoco...

Piadinhas a parte, quero só mencionar que dia 27 fez 5 meses de blog, esperamos chegar ao nosso 1ª aniversário de 1 ano, com mais de 1000 visitas, não só do Rio Grande do Sul e do Brasil, mas também do mundo. Com o novo recurso do mapinha podemos ver da onde provem nossos visitantes, pena que adicionado somente agora...

Um ótimo fim de mês a todos e novas postagens virão... Não esqueçam, mês de novembro vem nova capa para o blog e eu faço 21 aninhos no dia 15 e a Claudia faz niver também, 25 aninhos, no dia 3...

Abração...
Espero que estejam gostando do blog. O nosso desejo é deixá-lo cada vez melhor para vocês!

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

O Autor Norbert Elias

por Charles Moisés Müller

Norbert Elias, um dos sociólogos de maior destaque no século XX, nasceu em Breslau, na atual Polônia, em 1897 e morreu em Amsterdã em 1990. Filho único de um casal de judeus. Antes de ter ido trabalhar para o Instituto de Investigações Sociológicas, em Frankfurt, interessa-se por várias áreas do saber, nomeadamente pela Medicina, Psicologia, Filosofia e Sociologia. Foge da Alemanha nazista em 1933 para a Suíça e depois para Paris, antes de se estabelecer na Inglaterra onde passará grande parte de sua carreira. Todavia, seus trabalhos em alemão tardaram a ser reconhecidos e ele viveu de forma precária em Londres antes de obter em 1954 um posto de professor na Universidade de Leicester.

Formado pelas universidades de Breslau e Heidelberg, lecionou na Universidade de Leicester (1945-62) e foi professor visitante na Alemanha, Holanda e Gana. O reconhecimento tardio veio apenas aos 70 anos, com a publicação de A sociedade de corte. No Brasil, sua obra tem sido publicada pela editora Zahar com grande receptividade do público leitor: Os alemães; Os estabelecidos e os outsiders; Mozart: sociologia de um gênio; Norbert Elias por ele mesmo; A peregrinação de Watteau à Ilha do Amor; O processo civilizador (2 vols.); Sobre o tempo; A sociedade de corte; A sociedade dos indivíduos e A solidão dos moribundos.

Norbert Elias é conhecido principalmente por seu livro O Processo Civilizador, publicado pela primeira vez na Suíça em 19392. Nessa, que é reconhecida como sua obra magna, Elias propõe o seguinte problema, a princípio bastante simples: se uma pessoa que vive em nossa época fosse transportada até tempos passados em sua própria sociedade, certamente veria um modo de vida muito diferente do seu, alguns costumes provavelmente lhe causariam asco, enquanto outros lhe causariam curiosidade e até atração – em suma, encontraria muito daquilo que vê em sociedades atuais às quais considera incivilizadas. Apesar de o problema ser bastante simples, as perguntas correspondentes a essa situação – como se deu essa mudança? em que consiste? quais são suas forças motrizes? – não comportam uma resposta rudimentar. São essas perguntas que O Processo Civilizador procura responder.


Obras: (em ordem cronológica da data de publicação)

1939: Über den Prozeß der Zivilisation. Soziogenetische und psychogenetische Untersuchungen. Erster Band. Wandlungen des Verhaltens in den weltlichen Oberschichten des Abendlandes e Zweiter Band. Wandlungen der Gesellschaft. Entwurf einer Theorie der Zivilisation. Basiléia: Verlag Haus zum Falken.

1965: The Established and the Outsiders. A Sociological Enquiry into Community Problems, Londres: Frank Cass & Co. (originalmente publicado em inglês)

1969: Die höfische Gesellschaft. Untersuchungen zur Soziologie des Königtums und der höfischen Aristokratie (based on the 1933 habilitation). Neuwied/Berlin: Luchterhand.

1970: Was ist Soziologie?. München: Juventa. (Published in English as What is Sociology?, London: Hutchinson, 1978).

1982: Über die Einsamkeit der Sterbenden in unseren Tagen, Frankfurt am Main: Suhrkamp.

1982 (editado com Herminio Martins e Richard Whitley): Scientific Establishments and Hierarchies. Sociology of the Sciences Yearbook 1982, Dordrecht: Reidel.

1983: Engagement und Distanzierung. Arbeiten zur Wissenssoziologie I, editado por Michael Schröter, Frankfurt am Main: Suhrkamp.

1984: Über die Zeit. Arbeiten zur Wissenssoziologie II, editado por Michael Schröter, Frankfurt am Main: Suhrkamp.

1985: Humana conditio. Betrachtungen zur Entwicklung der Menschheit am 40. Jahrestag eines Kriegsendes (8. Mai 1985), Frankfurt am Main: Suhrkamp.

1986 (com Eric Dunning): Quest for Excitement. Sport and Leisure in the Civilizing Process. Oxford: Blackwell.

1987: Die Gesellschaft der Individuen, edited by Michael Schröter, Frankfurt am Main: Suhrkamp.

1987: Los der Menschen. Gedichte, Nachdichtungen, Frankfurt am Main: Suhrkamp. (poesia).

1989: Studien über die Deutschen. Machtkämpfe und Habitusentwicklung im 19. und 20. Jahrhundert, editado por Michael Schröter, Frankfurt am Main: Suhrkamp.
1990: Über sich selbst, Frankfurt am Main: Suhrkamp.

1991: Mozart. Zur Soziologie eines Genies, editado por Michael Schröter, Frankfurt am Main: Suhrkamp.

1991: The Symbol Theory. London: Sage. (originalmente publicado em inglês)

1996: Die Ballade vom armen Jakob, Frankfurt am Main: Insel Verlag (drama).

1998: Watteaus Pilgerfahrt zur Insel der Liebe, Weitra : Bibliothek der Provinz.

1998: The Norbert Elias Reader: A Biographical Selection, editado por Johan Goudsblom e Stephen Mennell, Oxford: Blackwell.

1999: Zeugen des Jahrhunderts. Norbert Elias im Gespräch mit Hans Christian Huf, editado por Wolfgang Homering, Berlim: Ullstein. (entrevista).

2002: Frühschriften. Frankfurt am Main: Suhrkamp. (primeiros escritos)

2004: Gedichte und Sprüche. Frankfurt am Main: Suhrkamp. (traduções de poemas em inglês e francês).


Bibliografia:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Norbert_Elias
http://www.zahar.com.br/catalogo_autores_detalhe.asp?aut=Norbert+Elias
http://www.fef.unicamp.br/sipc/anais9/artigos/mesa_debates/art27.pdf -
http://www.webboom.pt/autordestaque.asp?ent_id=1114124&area=01

O Autor Paul-Michel Foucault


por Charles Moisés Müller

Paul-Michel Foucault nasceu em 15 de outubro de 1926. Filho de Paul Foucault, cirurgião e professor de anatomia em Poitiers, e Anna Malapert, Michel pertencia a uma família onde a medicina era tradição, pois tanto o avô paterno quanto o materno eram cirurgiões, mas Michel traçou o próprio caminho. Desde cedo demonstrou interesse pela história. Foucault era uma pessoa curiosa, o que fazia com que buscasse por conta própria suas leituras. Seu interesse pela filosofia não tardou a aparecer,

Mudou-se para Paris em 1945.

Foucault trazia com ele a característica de ser uma pessoa solitária e fechada, o que foi tornando-se cada vez mais forte, pois as relações e a competitividade por parte dos alunos desta escola fizeram com que ele recuasse ainda mais do contato social. Tornou-se uma pessoa agressiva e irônica, características estas que se mantiveram por toda sua vida. Em 1948 Foucault tentou suicídio, o que acabou levando-o a um tratamento psiquiátrico. Este impulso, retornou outras vezes em sua vida. Segundo o psiquiatra que o acompanhou, esta atitude estava ligada à dificuldades frente a sua homossexualidade, que começava a anunciar-se. Esta experiência colocou-o pela primeira vez em contato com a psiquiatria, psicologia e psicanálise, o que marcou profundamente a sua obra.

Admitia grande influência de Heidegger em sua obra, chegando a afirmar: "Todo o meu devir filosófico foi determinado por minha leitura de Heidegger." É influenciado também por Nietzsche e por Bachelard. Este filósofo tornou-se grande amigo de Louis Althusser, que o levou a aderir ao partido comunista. Por toda a vida esteve às voltas com a política.

Foucault lecionou psicologia e filosofia em diversas universidades, em países como: Alemanha, Suécia, Tunísia, EUA, etc. Trabalhou durante muito tempo como psicólogo em hospitais psiquiátricos e prisões. Escreveu para diversos jornais. Viajou o mundo apresentando conferências. Em 1955 mudou-se para Suécia, onde conheceu Dumézil. Este contato foi importante para a evolução do pensamento de Foucault, pela idéia de estrutura que Dumézil desenvolveu.

Em 1961 defendeu tese de Doutorado intitulada: "Loucura e Desrazão". Esteve no Brasil em 1965 para conferência à convite de Gerard Lebrun, seu aluno na rue d'Ulm em 1954. Foucault faleceu no dia 25 de junho de 1984, em plena produção intelectual, o que fez com que sua morte fosse muito sentida. A causa da morte foi questão de muitas discussões, sendo levantada a hipótese AIDS. O autor publicou as seguintes obras:"Doença mental e Psicologia" (1954); "História da Loucura" (1961); "Raymond Roussel" ( 1963 ); "O nascimento da clínica" (1963 ); "As palavras e as coisas"(1966); "A Arqueologia do saber" (1969); "A ordem do discurso" (1970 - aula inaugural do College de France); "Vigiar e Punir" (1977); "A vontade de saber - História da sexualidade I" (1976); "O uso dos prazeres - História da sexualidade II" (1984); "O cuidado de si - História da sexualidade III" (1984). Foucault foi e ainda é um filósofo respeitado e de sucesso. Sempre polêmico, tanto pelas suas idéias, quanto por seu comportamento, temperamento e sua opção sexual.

O pensamento de Foucault poderia ser localizado como parte do debate sobre modernidade, onde a razão iluminista ocupa o local de destaque. O homem, para este filósofo, ocupa um papel importante, uma vez que é sujeito e objeto de conhecimento. Considera o homem enquanto resultado de uma produção de sentido, de uma prática discursiva e de intervenções de poder. Foucault discute o homem, enquanto sujeito e objeto do conhecimento, através de três procedimentos em domínios diferentes: a arqueologia, a genealogia e a ética.

Referencia Bibliográfica
http://www.pucsp.br/~filopuc/verbete/foucault.htm (acesso em 04/03/2009)
http://educacao.uol.com.br/biografias/ult1789u720.jhtm (acesso em 04/03/2009)

Holocausto - Campos de Concentração Nazistas

O vídeo abaixo é sobre os campos de concentração nazistas.
As cenas do mesmo são muito fortes e comoventes.
A qualidade da imagem não 100%, mas podemos ter uma boa noção de como funcionava o terrível sistema de extermínio nos campos de concentração nazistas...



O QUEIJO E OS VERMES: Circularidade cultural e feitiçaria.

Por: Claudia Zelini Diello

“Eu disse que segundo meu pensamento e crença tudo era um caos [...] e de todo aquele volume em movimento se formou uma massa, do mesmo modo como o queijo é feito do leite, e do qual surgem os vermes, e esses formam os anjos. A santíssima majestade quis que aquilo fosse Deus e os outros, anjos, e entre todos aqueles anjos estava Deus, ele também criado daquela massa, naquele mesmo momento...”

Este trecho do livro de Carlo Ginzburg, O Queijo e os Vermes, resumem o núcleo das idéias defendidas por Domenico Scandela, o moleiro conhecido como Menocchio, diante dos inquisidores italianos, em 1584.

Nascido em Montereale, aldeia do Friuli, foi denunciado ao Santo Ofício pelo pároco Dom Odorico Vorai, antigo desafeto que o acusava de pronunciar palavras “heréticas e totalmente ímpias”. Crítico do clero, da Igreja e da opressão contra os pobres, Menocchio foi descoberto por acaso quase quatro séculos depois. A análise cuidadosa de seu proce sso deu origem ao clássico O Queijo e os Vermes, livro publicado em 1976 e editado no Brasil 10 anos depois.

A história de Menocchio não é apenas um relato insólito de um personagem bizarro. Por Ginzburg, a análise do estranho caso de um moleiro perdido nos campos de uma Itália em luta contra o avanço protestante deu corpo a uma profunda reflexão sobre a escrita da história, suas dificuldades, desafios e possibilidades.

Ainda nos anos de 1960, quando pesquisava processos de bruxaria entre os séculos XVI e XVII, Ginzburg deparou-se com um conjunto de documentos sobre os benandanti, ou os andarilhos do bem, defensores das colheitas contra bruxos e feiticeiros. A análise do ritual de fertilidade seguido por esses camponeses, resultou no livro I benandanti, publicado originalmente em1966, e que revelou um núcleo de crenças populares ainda muito identificadas a resquícios de uma cultura oral, pagã e popular de longa duração, mas qu e paulatinamente foram assimilados à feitiçaria.

Ginzburg estaria analisando a essa altura, e segundo suas próprias palavras “a mentalidade de uma sociedade camponesa” e suas conclusões apontavam para um processo de aculturação dos benandanti, na medida em que, entre 1580 e 1650 estes passaram de uma atitude de defesa da autenticidade de suas crenças para uma aceitação gradativa da acusação de feitiçaria perpetrada pelos inquisidores.

Durante o trabalho sobre os benandanti, Ginzburg encontrou o processo de Menocchio e, dez anos depois, era publicada a história do moleiro friulano. Entre os dois livros, no entanto, um longo percurso teórico-metodológico alterou substancialmente as idéias de Ginzburg acerca das relações entre as classes subalternas e dominantes, ou, para falarmos dos processos inquisitoriais estudados, entre inquisidores e populares camponeses acusados de feitiçaria.

Se no caso dos benandanti a assimilação das acusações parecia refletir sem dificuldade a dominação de uma “mentalidade” vitoriosa, no caso de Menocchio as certezas deram lugar a uma flexibilidade maior e à necessidade de reformulações nas peças de um delicado quebra-cabeças.
Já no Prefácio de O queijo e os vermes o autor deix a clara a recusa do conceito de mentalidade, exatamente pelo que mais havia valorizado na trajetória dos andarilhos do bem: o caráter interclassista e de longa duração das crenças populares, tomadas sempre no que tinham de aparentemente imóvel, inconsciente, irracional.

Para Ginzburg, as idéias de Menocchio não podiam ser diluídas e ocultadas no que pudessem ter de original, sendo assim fez uso do termo “cultura” em sua acepção antropológica: conjunto de atitudes, crenças, códigos de comportamento próprio das classes subalternas num certo período histórico.

Mas além desse passo, Ginzburg defrontou-se ainda com o desafio de resgatar, no terreno da cultura, as diferentes maneiras de enfrentamento entre cultura dominante e subalterna.

Pela historia de Menocchio, um moleiro que destoava do seu grupo por saber ler e escrever, Ginzburg descobriu uma teia de imbricações, reapropriações e, mesmo admitindo ser Scandela e sua história “um fragmento perdido, que só nos alcançou por acaso [...], através de um gesto arbitrário”, fez da decifração de sua cosmogonia um ensaio de teoria e metodologia, um roteiro para o estudo do que hoje chamamos “história cultural”.

O contato com o mundo das letras, e mesmo com texto s sofisticados, não retirou Menocchio de sua cultura, mas, ao contrário, realçou a especificidade de suas interpretações, adaptadas a uma realidade ainda refratária a abstrações e fortemente marcada pela vivência concreta e materializada dos fenômenos religiosos e das religiosidades. Para entender a origem do mundo, Menocchio serviu-se de algo que lhe era familiar, cotidiano, conhecido: fez da origem do queijo e dos vermes, por analogia, a Gênese; através da mistura de cultos pagãos e cristãos deu suporte à sua formulação herética.

Mas se uma análise tão aprofundada da história de um herege que acabou queimado pela inquisição por não conseguir deixar de propagar suas idéias pode parecer apenas o relato excepcional de um personagem bizarro, devemos novamente estar atentos às advertências do autor: “dois grandes eventos históricos tornaram possível um caso como o de Menocchio: a invenção da imprensa e a Reforma”.

É, portanto, no cruzamento entre a micro-história de nosso moleiro e a macro-história das Reformas e das transformações que marcaram a Época Moderna que podemos entender a “produção” de um personagem como Menocchio. Domenico Scandela encarnou a dinâmica da circularidade cultural, tendo acesso a livros produzidos pela cultura letrada e adaptando suas leituras às vivências cotidianas de uma comunidade camponesa.

Ginzburg levaria ainda mais longe suas reflexões sobre os diferentes níveis de interpenetração das culturas com o seu História Noturna. Decifran do o sabá5, publicado em 1989. Com esse trabalho, praticamente se fecha o ciclo iniciado com os benandanti: partindo da força da cultura dominante, Ginzburg descobriu com Menocchio a resistência da cultura subalterna e a circularidade cultural entre as classes dominantes e populares.

Fruto da obsessão de inquisidores e juízes, o estudo do ritual do sabá feito por Ginzburg desvendou uma história “noturna” e desconhecida, alimentada por mitos e medos ancestrais, conformando o que o autor chamou de “formação híbrida de compromisso”, resultado híbrido de um conflito entre cultura folclórica e cultura erudita. Na história noturna do sabá, Ginzburg retoma a problemática dos benandanti e avança ainda mais teoricamente ao observar perseguidores e perseguidos igualmente atravessad os pela dinâmica dos encontros e embates culturais.

Como se vê, foram muitos os temas tratados por Carlo Ginzbrug ao longo de mais de 30 anos de pesquisa dedicada à feitiçaria, às religiosidades populares, à cultura em sua dimensão histórico-antropológica.

A abordagem sofisticada e minuciosa, a história cultural tal como concebida por Carlo Ginzburg se interessa pelo detalhe e pelo contexto, pelas micro e pelas macro-questões que, articuladas, podem nos aproximar um pouco mais de nossos antepassados. Decifração de indícios, ciência do particular, a história cultural se move em terreno acidentado e misterioso e, sem prescindir jamais das fontes, autoriza alguns vôos, muitos deles também noturnos, já que “a tentativa de conhecer o passado também é uma viagem ao mundo dos mortos.”

Carlo Ginzburg

Fonte:
O queijo e os vermes. O cotidiano e as idéias de um moleiro perseguido pela inquisição. A primeira edição italiana do livro é da Giulio Einaudi Editore, 1976. A edição brasileira é da Companhia das Letras, 1986.

by Claudia
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Iemanjá: História



Por: Claudia Zelini Diello

Iemanjá, Yemanjá, Yemaya, Iemoja ou Yemoja, é um orixá africano, cujo nome deriva da expressão Iorubá "Yèyé omo ejá" ("Mãe cujos filhos são peixes").

Na Mitologia Yoruba, a dona do mar é Olokun que é mãe de Yemojá, ambas de origem Egbá.
Yemojá, que é saudada como Odò (rio) ìyá (mãe) pelo povo Egbá, por sua ligação com Olokun, Orixá do mar (masculino (em Benin) ou feminino (em Ifé)), muitas vezes é referida como sendo a rainha do mar em outros países.

Iemanjá, é o orixá dos Egbá, uma nação iorubá estabelecida outrora na região entre Ifé e Ibadan, onde existe ainda o rio Yemoja. Com as guerras entre nações iorubás levaram os Egbá a emigrar na direção oeste, para Abeokuta, no início do século XIX. Não lhes foi possível levar o rio, mas, transportaram consigo os objetos sagrados, suportes do axé da divindade, e o rio Ògùn, que atravessa a região, tornou-se, a partir de então, a nova morada de Iemanjá. Este rio Ògùn não deve, entretanto, ser confundido com Ògún, o orixá do ferro e dos ferreiros.

Brasil, a orixá goza de grande popularidade entre os seguidores de religiões afro-brasileiras, e até por membros de religiões distintas.

Na Umbanda, é considerada a divindade do mar, além de ser a deusa padroeira dos náufragos, mãe de todas as cabeças humanas.


“Iemanjá, rainha do mar, é também conhecida por dona Janaína, Inaê,
Princesa de Aiocá e Maria, no paralelismo com a religião católica.
Aiocá é o reino das terras misteriosas da felicidade e da liberdade, imagem das terras natais da África,
Saudades dos dias livres na floresta”
Jorge Amado

Além da grande diversidade de nomes africanos pelos quais Iemanjá é conhecida, a forma portuguesa Janaína também é utilizada, embora em raras ocasiões.

A alcunha, criada durante a escravidão, foi a maneira mais branda de "sincretismo" encontrada pelos negros para a perpetuação de seus cultos tradicionais sem a intervenção de seus senhores, que consideravam inadimissíveis tais "manifestações pagãs" em suas propriedades.

Embora tal invocação tenha caído em desuso, várias composições de autoria popular foram realizadas de forma a saudar a "Janaína do Mar" e como canções litúrgicas.

 Qualidades
Yemowô - que na África é mulher de Oxalá,
Iyamassê - é a mãe de Sàngó,
Yewa - rio africano paralelo ao rio Ògún e que freqüentemente é confundido em algumas lendas com Yemanjá,
Olossa - lagoa africana na qual deságuam os rios Yewa e Ògún,
Iemanjá Ogunté - que casa com Ògún Alagbedé,
Iemanjá Asèssu - muito voluntariosa e respeitável,
Iemanjá Saba ou Assabá - está sempre fiando algodão é a mais jovem.

 Dia: Sábado.

 Data: 2 de fevereiro.

 Metal: prata e prateados.

Cor: prata transparente, azul, verde água e branco.

 Comida: manjar branco, acaçá, peixe de água salgada, bolo de arroz, ebôya, ebô e vários tipos de furá.

 Arquétipo dos seus filhos: voluntarioso, fortes, rigorosos, protetores, caridosos, solidários em extremo, ingênuos, amigo, tímido, vaidosos com os cabelos principalmente, altivos, temperamentais, algumas vezes impetuosos e dominadores, e tem um certo medo do mar.

 Símbolos: abebé prateado, alfange, agadá, obé, peixe, couraça, adê, braceletes, e pulceiras.

 Sincretismo

Existe um sincretismo entre a santa católica Nossa Senhora dos Navegantes e a orixá da Mitologia Africana Iemanjá. Em alguns momentos, inclusive festas em homenagem as duas se fundem.

No Brasil, tanto Nossa Senhora dos Navegantes como Iemanjá tem sua data festiva no dia 2 de fevereiro. Costuma-se festejar o dia que lhe é dedicado, com uma grande procissão fluvial.

Uma das maiores festas ocorre em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, devido ao sincretismo com Nossa Senhora dos Navegantes, que é a padroeira da cidade. No mesmo estado, em Pelotas a imagem de Nossa Senhora dos Navegantes vai até o Porto de Pelotas. Antes do encerramento da festividade católica acontece um dos momentos mais marcantes da festa de Nossa Senhora dos Navegantes em Pelotas, que em 2008 chegou à 77ª edição. As embarcações param e são recepcionadas por umbandistas que carregavam a imagem de Iemanjá, proporcionando um encontro ecumênico assistido da orla por várias pessoas.

No dia 8 de dezembro, outra festa é realizada à beira mar baiana: a Festa de Nossa Senhora da Conceição da Praia. Esse dia, 8 de dezembro, é dedicado à padroeira da Bahia, Nossa Senhora da Conceição da Praia, sendo feriado municipal em Salvador. Também nesta data é realizado, na Pedra Furada, no Monte Serrat em Salvador, o presente de Iemanjá, uma manifestação popular que tem origem na devoção dos pescadores locais à Rainha do Mar - também conhecida como Janaína

Na capital da Paraíba, a cidade de João Pessoa, o feriado municipal consagrado a Nossa Senhora da Conceição, 8 de dezembro, é o dia de tradicional festa em homenagem a Iemanjá. Todos os anos, na Praia de Tambaú, instala-se um palco circular cercado de bandeiras e fitas azuis e brancas ao redor do qual se aglomeram fiéis oriundos de várias partes do Estado e curiosos para assistir ao desfile dos orixás e, principalmente, da homenageada. Pela praia, encontram-se buracos com velas acesas, flores e presentes. Em 2008, segundo os organizadores da festa, 100 mil pessoas compareceram ao local.


LENDA DE IEMANJÁ
Ao criar o mundo, Olorum definiu os poderes e os trabalhos de cada orixá. Para Iemanjá sobraram apenas as tarefas domésticas da casa de seu esposo Oxalá. Muito chateada por ter sido esquecida por Olorum, desatou a reclamar dia e noite nos ouvidos do marido.

Aonde Oxalá ia, Iemanjá ia atrás reclamando em altos brados, durante meses e meses.Tantas foram as queixas de Iemanjá que Oxalá enlouqueceu e já não sabia fazer mais nada, abandonou suas atribuições e ficava a cantarolar músicas sem sentido totalmente alheio do mundo.

Diante disso a esposa desesperou-se. Sabia que não seria perdoada por Olorum e o castigo deste seria terrível. O mundo precisava muito da atenção e dos cuidados de seu marido. Arrependida, passou a cuidar do ori do esposo com banhos e muitas comidas, sempre feitos com carinho e amor.

O desvelo dela foi tão grande que Oxalá curou-se. Olorum então, reconhecendo o bem que Iemanjá proporcionou a humanidade, deu-lhe o poder de cuidar dos oris de todos os homens da terra. Assim ela passou a ser a dona de todas as cabeças e a receber sacrifícios como todos os outros orixás.

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História Da Umbanda: Caridade e Humildade

Preto Véio
Por: Claudia Zelini Diello

No final de 1908, Zélio Fernandino de Moraes, um jovem rapaz com 17 anos, que preparava-se para ingressar na carreira militar na Marinha, começou a sofrer estranhos "ataques". Sua família, conhecida e tradicional na cidade de Neves, estado do Rio de Janeiro, foi pega de surpresa pelos acontecimentos.

Esses "ataques" do rapaz eram caracterizados por posturas de um velho, falando coisas sem sentido e desconexas, como se fosse outra pessoa que havia vivido em outra época. Muitas vezes assumia uma forma que parecia a de um felino lépido e desembaraçado que mostrava conhecer muitas coisas da natureza.

Após examiná-lo durante vários dias, o médico da família recomendou que seria melhor encaminhá-lo a um padre, pois o médico (que era tio do paciente), dizia que a loucura do rapaz não se enquadrava em nada que ele havia conhecido. Acreditava mais, era que o menino estava endemoniado.

Alguém da família sugeriu que "isso era coisa de espiritismo" e que era melhor levá-lo à Federação Espírita de Niterói, presidida na época por José de Souza. No dia 15 de novembro, o jovem Zélio foi convidado a participar da sessão, tomando um lugar à mesa.

Tomado por uma força estranha e alheia a sua vontade, e contrariando as normas que impediam o afastamento de qualquer dos componentes da mesa, Zélio levantou-se e disse: "Aqui está faltando uma flor".

Saiu da sala indo ao jardim e voltando após com uma flor, que colocou no centro da mesa. Essa atitude causou um enorme tumulto entre os presentes. Restabelecidos os trabalhos, manifestaram-se nos médiuns kardecistas espíritos que se diziam pretos escravos e índios.

O diretor dos trabalhos achou tudo aquilo um absurdo e advertiu-os com aspereza, citando o "seu atraso espiritual" e convidando-os a se retirarem.
Após esse incidente, novamente uma força estranha tomou o jovem Zélio e através dele falou: -"Porque repelem a presença desses espíritos, se nem sequer se dignaram a ouvir suas mensagens. Será por causa de suas origens sociais e da cor ?"

Seguiu-se um diálogo acalorado, e os responsáveis pela sessão procuravam doutrinar e afastar o espírito desconhecido, que desenvolvia uma argumentação segura.

Um médium vidente perguntou: -"Por quê o irmão fala nestes termos, pretendendo que a direção aceite a manifestação de espíritos que, pelo grau de cultura que tiveram, quando encarnados, são claramente atrasados? Por quê fala deste modo, se estou vendo que me dirijo neste momento a um jesuíta e a sua veste branca reflete uma aura de luz? E qual o seu nome irmão?

-"Se querem um nome, que seja este: sou o Caboclo das Sete Encruzilhadas, porque para mim, não haverá caminhos fechados."

-"O que você vê em mim, são restos de uma existência anterior. Fui padre e o meu nome era Gabriel Malagrida. Acusado de bruxaria fui sacrificado na fogueira da Inquisição em Lisboa, no ano de 1761. Mas em minha última existência física, Deus concedeu-me o privilégio de nascer como caboclo brasileiro."

Anunciou também o tipo de missão que trazia do Astral:
-"Se julgam atrasados os espíritos de pretos e índios, devo dizer que amanhã (16 de novembro) estarei na casa de meu aparelho, às 20 horas, para dar início a um culto em que estes irmãos poderão dar suas mensagens e, assim, cumprir missão que o Plano Espiritual lhes confiou. Será uma religião que falará aos humildes, simbolizando a igualdade que deve existir entre todos os irmãos, encarnados e desencarnados.”

O vidente retrucou: -"Julga o irmão que alguém irá assistir a seu culto" ? perguntou com ironia. E o espírito já identificado disse:

-"Cada colina de Niterói atuará como porta-voz, anunciando o culto que amanhã iniciarei".

Para finalizar o caboclo completou:
-"Deus, em sua infinita Bondade, estabeleceu na morte, o grande nivelador universal, rico ou pobre, poderoso ou humilde, todos se tornariam iguais na morte, mas vocês, homens preconceituosos, não contentes em estabelecer diferenças entre os vivos, procuram levar essas mesmas diferenças até mesmo além da barreira da morte. Porque não podem nos visitar esses humildes trabalhadores do espaço, se apesar de não haverem sido pessoas socialmente importantes na Terra, também trazem importantes mensagens do além?"

No dia seguinte, na casa da família Moraes, na rua Floriano Peixoto, número 30, ao se aproximar a hora marcada, 20:00 h, lá já estavam reunidos os membros da Federação Espírita para comprovarem a veracidade do que fora declarado na véspera; estavam os parentes mais próximos, amigos, vizinhos e, do lado de fora, uma multidão de desconhecidos.

Às 20:00 h, manifestou-se o Caboclo das Sete Encruzilhadas. Declarou que naquele momento se iniciava um novo culto, em que os espíritos de velhos africanos que haviam servido como escravos e que, desencarnados, não encontravam campo de atuação nos remanescentes das seitas negras, já deturpadas e dirigidas em sua totalidade para os trabalhos de feitiçaria; e os índios nativos de nossa terra, poderiam trabalhar em benefício de seus irmãos encarnados, qualquer que fosse a cor, a raça, o credo e a condição social.

A prática da caridade, no sentido do amor fraterno, seria a característica principal deste culto, que teria por base o Evangelho de Jesus.

O Caboclo estabeleceu as normas em que se processaria o culto. Sessões, assim seriam chamados os períodos de trabalho espiritual, diárias, das 20:00 às 22:00 h; os participantes estariam uniformizados de branco e o atendimento seria gratuito. Deu, também, o nome do Movimento Religioso que se iniciava: UMBANDA – Manifestação do Espírito para a Caridade.

A Casa de trabalhos espirituais que ora se fundava, recebeu o nome de Nossa Senhora da Piedade, porque assim como Maria acolheu o filho nos braços, também seriam acolhidos como filhos todos os que necessitassem de ajuda ou de conforto.

Ditadas as bases do culto, após responder em latim e alemão às perguntas dos sacerdotes ali presentes, o Caboclo das Sete Encruzilhadas passou a parte prática dos trabalhos.

O caboclo foi atender um paralítico, fazendo este ficar curado. Passou a atender outras pessoas que haviam neste local, praticando suas curas.

Nesse mesmo dia incorporou um preto velho chamado Pai Antônio, aquele que, com fala mansa, foi confundido como loucura de seu aparelho e com palavras de muita sabedoria e humildade e com timidez aparente, recusava-se a sentar-se junto com os presentes à mesa dizendo as seguintes palavras:

"Nêgo num senta não meu sinhô, nêgo fica aqui mesmo. Isso é coisa de sinhô branco e nêgo deve arrespeitá."

Após insistência dos presentes fala:
-"Num carece preocupá não. Nêgo fica no toco que é lugá di nego."

Assim, continuou dizendo outras palavras representando a sua humildade. Uma pessoa na reunião pergunta se ele sentia falta de alguma coisa que tinha deixado na terra e ele responde:
-"Minha caximba. Nêgo qué o pito que deixou no toco. Manda mureque busca."

Tal afirmativa deixou os presentes perplexos, os quais estavam presenciando a solicitação do primeiro elemento de trabalho para esta religião. Foi Pai Antonio também a primeira entidade a solicitar uma guia, até hoje usadas pelos membros da Tenda e carinhosamente chamada de "Guia de Pai Antonio".

No dia seguinte, verdadeira romaria formou-se na rua Floriano Peixoto. Enfermos, cegos etc. vinham em busca de cura e ali a encontravam, em nome de Jesus. Médiuns, cuja manifestação mediúnica fora considerada loucura, deixaram os sanatórios e deram provas de suas qualidades excepcionais.

A partir daí, o Caboclo das Sete Encruzilhadas começou a trabalhar incessantemente para o esclarecimento, difusão e sedimentação da religião de Umbanda. Além de Pai Antônio, tinha como auxiliar o Caboclo orixá Malé, entidade com grande experiência no desmanche de trabalhos de baixa magia.

Em 1918, o Caboclo das Sete Encruzilhadas recebeu ordens do Astral Superior para fundar sete tendas para a propagação da Umbanda. As agremiações ganharam os seguintes nomes: Tenda Espírita Nossa Senhora da Guia; Tenda Espírita Nossa Senhora da Conceição; Tenda Espírita Santa Bárbara; Tenda Espírita São Pedro; Tenda Espírita Oxalá, Tenda Espírita São Jorge; e Tenda Espírita São Gerônimo. Enquanto Zélio estava encarnado, foram fundadas mais de 10.000 tendas a partir das mencionadas.

Embora não seguindo a carreira militar para a qual se preparava, pois sua missão mediúnica não o permitiu, Zélio Fernandino de Moraes nunca fez da religião sua profissão.

Trabalhava para o sustento de sua família e diversas vezes contribuiu financeiramente para manter os templos que o Caboclo das Sete Encruzilhadas fundou, além das pessoas que se hospedavam em sua casa para os tratamentos espirituais, que segundo o que dizem parecia um albergue. Nunca aceitara ajuda monetária de ninguém era ordem do seu guia chefe, apesar de inúmeras vezes isto ser oferecido a ele.

Ministros, industriais, e militares que recorriam ao poder mediúnico de Zélio para a cura de parentes enfermos e os vendo recuperados, procuravam retribuir o benefício através de presentes, ou preenchendo cheques vultosos. "Não os aceite. Devolva-os!", ordenava sempre o Caboclo.

A respeito do uso do termo espírita e de nomes de santos católicos nas tendas fundadas, o mesmo teve como causa o fato de naquela época não se poder registrar o nome Umbanda, e quanto aos nomes de santos, era uma maneira de estabelecer um ponto de referência para fiéis da religião católica que procuravam os préstimos da Umbanda. O ritual estabelecido pelo Caboclo das Sete Encruzilhadas era bem simples, com cânticos baixos e harmoniosos, vestimenta branca, proibição de sacrifícios de animais. Dispensou os atabaques e as palmas. Capacetes, espadas, cocares, vestimentas de cor, rendas e lamês não seriam aceitos. As guias usadas são apenas as que determinam a entidade que se manifesta. Os banhos de ervas, os amacis, a concentração nos ambientes vibratórios da natureza, a par do ensinamento doutrinário, na base do Evangelho, constituiriam os principais elementos de preparação do médium.

O ritual sempre foi simples. Nunca foi permitido sacrifícios de animais. Não utilizavam atabaques ou qualquer outros objetos e adereços. Os atabaques começaram a ser usados com o passar do tempo por algumas das Tendas fundadas pelo Caboclo das Sete Encruzilhadas, mas a Tenda Nossa Senhora da Piedade não utiliza em seu ritual até hoje.

Após 55 anos de atividades à frente da Tenda Nossa Senhora da Piedade (1º templo de Umbanda), Zélio entregou a direção dos trabalhos as suas filhas Zélia e Zilméa, continuando, ao lado de sua esposa Isabel, médium do Caboclo Roxo, a trabalhar na Cabana de Pai Antônio, em Boca do Mato, distrito de Cachoeiras de Macacu – RJ, dedicando a maior parte das horas de seu dia ao atendimento de portadores de enfermidades psíquicas e de todos os que o procuravam.

Em 1971, a senhora Lilia Ribeiro, diretora da TULEF (Tenda de Umbanda Luz, Esperança, Fraternidade – RJ) gravou uma mensagem do Caboclo das Sete Encruzilhadas, e que bem espelha a humildade e o alto grau de evolução desta entidade de muita luz. Ei-la:

-"A Umbanda tem progredido e vai progredir. É preciso haver sinceridade, honestidade e eu previno sempre aos companheiros de muitos anos: a vil moeda vai prejudicar a Umbanda; médiuns que irão se vender e que serão, mais tarde, expulsos, como Jesus expulsou os vendilhões do templo. O perigo do médium homem é a consulente mulher; do médium mulher é o consulente homem. É preciso estar sempre de prevenção, porque os próprios obsessores que procuram atacar as nossas casas fazem com que toque alguma coisa no coração da mulher que fala ao pai de terreiro, como no coração do homem que fala à mãe de terreiro. É preciso haver muita moral para que a Umbanda progrida, seja forte e coesa. Umbanda é humildade, amor e caridade – esta a nossa bandeira. Neste momento, meus irmãos, me rodeiam diversos espíritos que trabalham na Umbanda do Brasil: Caboclos de Oxossi, de Ogum, de Xangô. Eu, porém, sou da falange de Oxossi, meu pai, e não vim por acaso, trouxe uma ordem, uma missão. Meus irmãos: sejam humildes, tenham amor no coração, amor de irmão para irmão, porque vossas mediunidades ficarão mais puras, servindo aos espíritos superiores que venham a baixar entre vós; é preciso que os aparelhos estejam sempre limpos, os instrumentos afinados com as virtudes que Jesus pregou aqui na Terra, para que tenhamos boas comunicações e proteção para aqueles que vêm em busca de socorro nas casas de Umbanda. Meus irmãos: meu aparelho já está velho, com 80 anos a fazer, mas começou antes dos 18. Posso dizer que o ajudei a casar, para que não estivesse a dar cabeçadas, para que fosse um médium aproveitável e que, pela sua mediunidade, eu pudesse implantar a nossa Umbanda. A maior parte dos que trabalham na Umbanda, se não passaram por esta Tenda, passaram pelas que saíram desta Casa. Tenho uma coisa a vos pedir: se Jesus veio ao planeta Terra na humildade de uma manjedoura, não foi por acaso. Assim o Pai determinou. Podia ter procurado a casa de um potentado da época, mas foi escolher aquela que havia de ser sua mãe, este espírito que viria traçar à humanidade os passos para obter paz, saúde e felicidade. Que o nascimento de Jesus, a humildade que Ele baixou à Terra, sirvam de exemplos, iluminando os vossos espíritos, tirando os escuros de maldade por pensamento ou práticas; que Deus perdoe as maldades que possam ter sido pensadas, para que a paz possa reinar em vossos corações e nos vossos lares. Fechai os olhos para a casa do vizinho; fechai a boca para não murmurar contra quem quer que seja; não julgueis para não serdes julgados; acreditai em Deus e a paz entrará em vosso lar. É dos Evangelhos. Eu, meus irmãos, como o menor espírito que baixou à Terra, mas amigo de todos, numa concentração perfeita dos companheiros que me rodeiam neste momento, peço que eles sintam a necessidade de cada um de vós e que, ao sairdes deste templo de caridade, encontreis os caminhos abertos, vossos enfermos melhorados e curados, e a saúde para sempre em vossa matéria. Com um voto de paz, saúde e felicidade, com humildade, amor e caridade, sou e sempre serei o humilde Caboclo das Sete Encruzilhadas".

Fonte:
Umbanda sem mistérios.


Três Passos, Reino de Ogun Itati

by Claudia
posted by Charles

sábado, 24 de outubro de 2009

A Morte do Mar de Aral - Uma Tragédia Ambiental Descomunal


Fotos via satélite: Revista Planeta


ESTA, SEM DÚVIDA É MAIS UMA TRISTE ESTÓRIA DE USO IRRACIONAL DOS RECURSOS DO MEIO AMBIENTE...não gostaríamos de ter notícias de outras tragédias como esta.
É POSSÍVEL SALVAR O MAR DE ARAL?

O QUE O MUNDO PODERIA CONTRIBUIR PARA ISTO?

A tragédia ecológica do Mar de Aral
por Rama Sampath Kumar [*]Tradução de João Manuel Pinheiro
O Mar de Aral, um lago terminal alimentado por dois rios principais, (Sirdaria e Amudaria) forma uma fronteira natural entre o Cazaquistão e o Uzbequistão. Era o quarto maior lago mundial em 1960; hoje, está em vias de desaparecer num pequeno e sujo poço. A destruição do Mar de Aral é um exemplo de como uma tragédia ambiental e humanitária pode ameaçar rapidamente toda uma região. Tal destruição constitui um caso clássico de desenvolvimento não-sustentado. Vale a pena estudá-lo pois, de certa forma, prefigura o que poderá acontecer a nível planetário se a humanidade continua a desperdiçar recursos finitos como a água.

O Mar de Aral e toda a bacia do lago ganhou notoriedade mundial como uma das maiores degradações ambientais do Século XX causadas pelo homem. A União Geográfica Internacional destacou a bacia Aral, nos começos dos anos 90, como uma das zonas críticas da terra [Kasperson, 1995]. É também referida como a “Chernobil Calada”, uma catástrofe silenciosa que evoluiu lentamente, quase imperceptivelmente, ao longo das últimas décadas [Glantz e Zonn, 1991]. A redução do Mar de Aral, captou a atenção e o interesse de governos, organizações ambientais e de desenvolvimento, leigos e comunicação social nos últimos anos em todo o mundo [Ellis, 1990]. A partir de meados dos anos 80, quando os soviéticos abriram as portas ao abrigo da política de glasnost (abertura), a situação do Mar de Aral ganhou a fama, junto de muitos observadores estrangeiros, de uma calamidade ambiental [Glantz, 1998]. Desde então que os cientistas têm vindo a exigir muito mais energicamente a salvação do Mar de Aral. Infelizmente, por essa altura, já o Mar de Aral estava reduzido a um terço do seu tamanho original. Apesar de ser novamente motivo da comunicação social mundial, e debatido, com uma nova abertura na União Soviética, era uma situação de crise conhecida que estava na agenda dos políticos da Federação por mais de 30 anos.

O Mar de Aral antes de 1960
O Mar de Aral fica situado a aproximadamente 600 km do Mar Cáspio. Costumava haver nele mais de 1.100 ilhas, separadas por lagoas e estreitos apertados, que deram ao mar o seu nome; na língua kasaque, Aral significa 'ilha'. No presente, a Kok Aral, a maior de todas as ilhas (é agora uma península) dispersas pelo Mar de Aral, separa a parte nordeste, chamada Pequeno Aral, da parte sudoeste, chamada o Grande Aral. Esta forma a fronteira natural entre Cazaquistão e Uzbequistão, que partilham entre si o lago. As duas partes estão ligadas pelo estreito de Berg.

O Mar de Aral era, até 1960, o quarto maior lago do mundo, cobrindo uma área de 66 mil quilómetros quadrados, com um volume estimado de mais de 1.000 km cúbicos .

Embora seja chamado um mar, na realidade é um lago terminal, alimentado por dois rios principais: Sirdaria no norte e Amudaria no sul. Este último, o maior rio da região, começa nas montanhas de Kunlun na cordilheira Hindu Cushe, dirige-se para noroeste através dos Montes Pamir e depois passa pelo Kirguizistão, Tadjiquistão, Uzbequistão (que forma fronteira com o Afeganistão) , Turcomenistão, e volta a passar por Uzbequistão antes de entrar no Mar de Aral.

O Sirdaria que começa na base norte das montanhas Tien Shan no Quirguistão, corre através de Tadjiquistão, Uzbequistão, Cazaquistão e depois entra no Mar de Aral . Por conseguinte, embora o Mar de Aral se situe entre Uzbequistão e Cazaquistão, todos os cinco estados da Ásia Central compartilham a bacia do Mar de Aral, uma área de 690 mil quilômetros quadrados. Os caudais destes dois sistemas fluviais perenes, sustentavam um nível estável no Mar de Aral. Ao longo dos séculos, cerca de metade do caudal dos dois rios alcançou o Mar de Aral. Um vasto delta sustentava uma prolífica atividade pesqueira. No lago, encontrava-se uma variedade de espécies de peixes que eram pescados, incluindo certas espécies que só existiam no Mar de Aral, entre eles o famoso esturjão de Aral. As suas águas alimentavam indústrias de pesca locais com capturas superiores a 40 mil toneladas anuais, enquanto os deltas dos seus principais afluentes abrigavam dezenas de lagos mais pequenos e terrenos alagadiços de grande riqueza biológica . Florestas cerradas de juncos e canas, algumas vezes estendendo-se vários quilômetros em direção ao mar, rodeavam as margens do lago. À volta do lago e no delta fluvial, viviam grandes populações de saikas (antílopes), javalis selvagens, lobos, raposas, almíscares, perus, gansos e patos. O Mar Aral era como um grande oásis no deserto. Durante muitos séculos, as estepes e as regiões semi - desertas abrigaram vários grupos étnicos. Antes da chegada da Rússia imperial, a população que vivia na área do Mar de Aral era, predominantemente, nômade. Este modo de vida era, até certo ponto, essencial, devido às condições de desertificação ambiental. O clima é fortemente continental e a paisagem é do tipo semi – deserto. A precipitação anual é de cerca de 200 mm. Não é possível haver agricultura com esta quantidade de chuva. Somente na zona perto dos dois rios era possível ter agricultura e por esse motivo, as pessoas que estavam afastadas dasmargens dos rios, viviam unicamente da criação de gado. A primeira tarefa do governo imperial russo foi fixar a população em comunidades agrícolas. Perceberam que uma terra seria boa para agricultura se houvesse água disponível. No final do século XIX, cultivou-se algodão a uma relativamente larga escala quando se introduziram novas tecnologias de irrigação. Foram abertos canais para facilitar o processo de irrigação e uma boa proporção da produção agrícola da Ásia central estava completamente dependente da irrigação. Nos anos que se seguiram à Revolução Bolchevique cresceu o interesse na irrigação dos territórios da Ásia central. A área irrigada foi extensivamente desenvolvida nos começos dos anos 20, pois os soviéticos da altura (bolcheviques) estavam interessados em aumentar a produção do algodão. Em 1918, Lênin emitiu uma proclamação pedindo mais algodão do Turquestão. Para além disto pretendiam também controlar a população rural. Nos finais dos anos 30, sob o comando de Stalin, o ministro soviético da água iniciou um projecto maciço de desvio da água a fim de irrigar as estepes do Uzbequistão, Cazaquistão e Turcomenistão para os preparar para a cultura do algodão. O primeiro grande projeto de irrigação iniciou a operação em 1939 com a construção do canal que rodeava o Vale de Ferghana no Uzbequistão. A caminho dos finais dos anos 40, grandes quantidades de água do Rio Sirdaria foram desviadas para fins agrícolas para Kizil-Orda no Cazaquistão e para uma zona perto de Tashkent no Uzbequistão. A produção agrícola ao longo do Sirdaria foi preparada e iniciada, com trágicas conseqüências para a cultura nómade kasaque. O programa de propriedade coletiva de Etalin atingiu duramente os kasaques e calcula-se que mais de um milhão de pessoas morreram ou abandonaram a região dirigindo-se para países a sul do Cazaquistão......................................................................................................................leia a história completa desta tragédia, no site:http://resistir.info/asia/mar_de_aral.html

AS TRISTES ALTERAÇÕES...
“Tudo isto (crise sanitária) é o preço excessivo pago com a saúde da população para se ter auto-suficiência em algodão”. Não surpreende que toda a literatura médica local esteja repleta de histórias de deformidades à nascença, incremento de doenças renais e hepáticas, gastrite crônica, crescente mortalidade infantil e taxas de aumento de cancro. As pessoas tiveram também que se adaptar a alterações drásticas no clima. Como já foi observado, nas últimas quatro décadas os verões tornaram-se mais quentes e mais curtos e os invernos mais frios. “As alterações climatéricas não afetam, necessariamente, a propagação da doença, mas tornam a vida muito mais difícil,” diz Darin Portnoy, um especialista ocidental de tuberculose, que trabalha para um projeto do Banco Mundial em Moynaq. “As pessoas concentram-se em locais fechados durante longos períodos. Vivem encerrados e proporcionam a propagação da doença.”

Quando parecia que as coisas não poderiam ficar mais deprimentes surgiu outra exasperante revelação: Foi noticiado de que tinham sido enterrados barris de bactéria de antraz na Ilha de Vozrozhdeniye, situada no Mar de Aral, quando o Uzbequistão fazia parte da União Soviética. Durante o tempo que Mikhail Gorbachev esteve à frente do governo, os serviços de informação de Washington disseram que a União Soviética, contrariamente às suas promessas de respeitar os tratados, estava a produzir armas químicas. Em 1988, os Estados Unidos exigiram inspecionar as instalações químicas soviéticas. Julga-se ter sido ordenado aos cientistas da cidade siberiana de Sverdiovsk, que transferissem centenas de toneladas de antraz para caixas gigantes de aço inoxidável e o regassem com lixívia para matar a bactéria. A mortífera carga foi depois transportada para a ilha no Mar de Aral que tinha sido o local a céu aberto para as experiências de armas biológicas. Contudo, a lixívia não matou completamente a bactéria. Amostras de testes feitos ao solo revelam que alguns esporos continuam vivos. O receio é que a bactéria de antraz enterrada possa ser transportada para os territórios uzbeque e kazaque por lagartos e pássaros. O antraz caracteriza-se por lesões nos pulmões e úlceras no corpo e é transmitido aos humanos per animais através do contato.

Tanto o Uzbequistão como o Cazaquistão pediram ajuda aos Estados Unidos para que se fizesse a determinação do perigo que os seus territórios corriam, uma vez que a Rússia não cumpriu a promessa de Boris Yeltsin em 1992, de fechar e descontaminar o local. Estratégia Regional para a água já em 1982, o governo procurou desenvolver um plano pormenorizado dos recursos hídricos das bacias dos rios Sirdaria e Amudaria e colocou estritas limitações à retirada de água. Pouco tempo depois, foram criadas duas organizações para operar e manter as principais infra-estruturas hidráulicas e controlar a utilização da água. Houve muitas propostas para se transferir água do Mar Cáspio para o Aral.

Um plano de longa duração consistia em desviar as águas dos rios siberianos Ob, Irtysh e Yenisey e canalizá-los para Sul, para a região do Mar de Aral e para o deserto. Após anos de controvérsia este plano foi abandonado devido aos custos e conseqüências ambientais, mas alguns cientistas locais ainda defendem a idéia.

Outra sugestão era desfazer os glaciares das montanhas Pamir e Tien Shan com explosões nucleares. Estas ideias não eram realistas, especialmente em tempos de crise econômica. Todavia, elas ainda perduram. Com o fim do período soviético, as cinco Repúblicas da Ásia Central (RAC) independentes, estabeleceram uma comissão conjunta para a coordenação da água e para regular a sua distribuição na bacia, consolidando posições próprias para a adoção de estratégias regionais para a água.

Em 1992, foi pedido ao Banco Mundial que coordenasse a ajuda internacional em resposta à crise na bacia do Mar de Aral. Em Setembro do mesmo ano, uma comissão do banco visitou a região e preparou um relatório sobre aquilo que viu. Teve lugar em Washington, em Abril de 1993, uma conferência internacional patrocinada pelo Banco Mundial, Programa Ambiental da Nações Unidas (UNEP) e Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas (UNDP) para discutir a proposta do banco. Estiveram presentes representantes das cinco repúblicas, assim como de outras organizações internacionais e agências de assistência. Com base nas recomendações do Banco Mundial, um grupo que incluía o Banco, o UNEP e o UNDP visitou a região em Maio de 1993 e preparou um programa de assistência financeira em colaboração com as RAC.

Este programa continha 19 projetos para a primeira etapa de um programa de três fases para salvar o Mar de Aral. As RAC, por sua vez, criaram três organizações regionais – o Concelho Interestadual, o Fundo Internacional para o Mar de Aral e a Comissão Executiva – para implementarem o programa. Foi encarada, e em parte implementada, uma maior utilização das águas de drenagem e residuais, assim como a introdução de colheitas mais tolerantes ao sal. Cerca de 6 km cúbicos/ano de águas de drenagens agrícolas e de águas residuais são diretamente reutilizadas para irrigação, enquanto 37 km cúbicos/ano regressam às depressões naturais ou rios, onde são misturadas com água fresca e podem ser reutilizadas para irrigação ou outros fins. O melhor que se espera é conseguir-se alguma estabilidade do lago e a sobrevivência dos dois deltas fluviais. A salvação dos deltas podia levar a uma nova atividade pesqueira comercial. Líderes governamentais afirmaram que a quantidade de terra para algodão será reduzida e que grandes quantidades de água serão bombadas para o Mar de Aral até 2005.

Funcionários da agricultura, contudo, dizem que é impossível demolir o sistema de canais. Muitos agricultores dependem dos rendimentos da cultura do algodão. O governo indicou também que as necessidades dos agricultores de algodão estão em primeiro lugar. A exportação de algodão é uma fonte importante de rendimento. As RAC não querem extirpar a monocultura do algodão e arriscar perder as suas recompensas econômicas. E assim, a maioria dos cientistas acredita que o Mar de Aral nunca irá ser como foi. O futuro do Mar de Aral é, portanto, incerto. A única coisa certa é que o lago é agora uma catástrofe ambiental à medida que o nível de água declina e o ecossistema se degrada, provocando um ambiente de deterioração e condições de vida e de saúde precárias para os povos que vivem nas margens do lago.

É agora impossível prever, com algum rigor, o futuro para o Aral, mas se não se encontrarem soluções apropriadas o nível da água continuará a declinar. Seja qual for o futuro, esta situação de certeza que abriu os olhos aos governos do mundo. É um forte aviso à comunidade internacional e ilustra a rapidez – em menos de 20 anos – como uma tragédia humanitária e ambiental pode ameaçar toda uma região e a sua população. A destruição do Mar de Aral é um exemplo clássico de desenvolvimento não-sustentado.

Fonte: http://resistir.info/asia/mar_de_aral.html
http://vamossalvarnossoplaneta.blogspot.com/2008/07/morte-do-mar-de-aral-uma-tragdia.html


Uma Imagem Vale Mais Que 1000 Palavras


infelizmente, by Charles

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Arsenal caseiro: Utensílios militares usados no nosso dia-a-dia


"Quase todos os materiais de nosso cotidiano empregam alguma tecnologia bélica", afirma o engenheiro João Luiz Hanriot Selasco, diretor do Instituto Nacional de Tecnologia, no Rio de Janeiro. Faz sentido - e se pensarmos bem, vamos encontrar o tempo todo produtos usados tanto na guerra quanto na paz. "Na cozinha, encontramos imediatamente a faca, que pode matar alguém ou só cortar um legume. É uma via de mão dupla - há passagens constantes do civil para o militar e vice-versa", diz o historiador Gildo Magalhães, da Universidade de São Paulo


Forno de microondas
INVENTOR - Percy Spencer
PAÍS - Estados Unidos
GUERRA EM QUE SURGIU - Guerra fria (1945-1991)

Quando a Segunda Guerra estava no fim, um funcionário da fornecedora militar Raytheon, o engenheiro Percy Spencer, notou que um chocolate em seu bolso derreteu quando ele inspecionava magnétrons, componentes usados em radares. Deduzindo que a meleca havia sido causada pelo calor gerado pelos magnétrons, Percy criou um aparelho para aquecer comida usando esse princípio. A Raytheon comprou a idéia e lançou o microondas.

CURIOSIDADE - O primeiro microondas pesava 340 quilos e custava de 2 mil a 3 mil dólares!


Chocolate M&M'S
INVENTOR - Forrest Edward Mars
PAÍS - Espanha / Estados Unidos
GUERRA EM QUE SURGIU - Guerra Civil Espanhola (1936-1939)

O empresário americano Forrest Mars ficou sabendo que tropas da Guerra Civil Espanhola comiam pelotas de chocolate envolvidas numa casca dura açucarada, que impedia o calor de derreter a guloseima. Inspirado na idéia, Mars criou os confeitos M&M’s, nome originado das iniciais dos sobrenomes de Mars e de seu sócio, Bruce Murrie.

CURIOSIDADE - Em 1941, o produto já estava no mercado, mas ganhou impulso quando o Exército americano passou a incluir os M&M’s na ração dos soldados que foram à Segunda Guerra. Em 1948, a embalagem de cartolina foi trocada pelo saquinho plástico que conhecemos hoje.


Panela de teflon
INVENTOR - Roy J. Plunkett
PAÍS - Estados Unidos
GUERRA EM QUE SURGIU - Segunda Guerra (1939-1945)

Em 1938, o químico Roy Plunkett realizava experiências com gases para refrigeração. Por acaso, uma amostra virou uma substância viscosa, em que quase nada grudava. Em 1945, a invenção recebeu o nome de teflon. Os primeiros usuários do novo produto foram os militares americanos, que aplicaram o teflon para revestir tubos e vedações na produção de material radioativo para a primeira bomba atômica.

CURIOSIDADE - Depois do fim da Segunda Guerra, a empresa em que Plunkett trabalhava encontrou diversas aplicações para o teflon, como o revestimento não adesivo para panelas.


Leite condensado
INVENTOR - Gail Borden
PAÍS - Estados Unidos
GUERRA EM QUE SURGIU - Guerra de Secessão (1861-1865)

Procurando uma forma de prolongar o armazenamento do leite, reduzir seu volume e contornar a falta de refrigeração, o inventor americano Gail Borden patenteou um método para fabricar leite condensado em 1856. A novidade ficou meio esquecida até o início da Guerra de Secessão, quando o exército dos estados do Norte incluiu o produto na ração das tropas, comprando grande quantidade de leite condensado.

CURIOSIDADE - Quando voltavam para casa de licença, os soldados contavam às famílias sobre o novo tipo de leite. O produto bombou tanto que a fábrica de Borden mal conseguia atender às encomendas.


Computador
INVENTOR - Engenheiros da Universidade da Pensilvânia
PAÍS - Estados Unidos
GUERRA EM QUE SURGIU - Guerra fria (1945-1991)

O primeiro computador, chamado de Eniac, surgiu nos Estados Unidos. Projetado para o Exército americano, o aparelho servia para ajudar nos cálculos de artilharia. O bichão ficou pronto em 1946 e ajudou nos cálculos para construir a bomba de hidrogênio, testada pelos Estados Unidos em 1952.

CURIOSIDADE - A máquina tinha mais de 2 metros de altura e ocupava uma área de 15 por 9 metros - algo como um armário gigante. Custou em torno de 400 mil dólares.


Margarina
INVENTOR -Hippolyte Mège-Mouriès
PAÍS - França
GUERRA EM QUE SURGIU - Guerra Franco-Prussiana (1870-1871)

Na década de 1860, o imperador francês Napoleão III, sobrinho de Napoleão Bonaparte, ofereceu um prêmio a quem descobrisse uma alternativa barata para a manteiga - na época, um produto caro e escasso. Até hoje os historiadores discutem se o imperador fez isso para facilitar a vida dos franceses pobres ou para abastecer suas forças armadas, às vésperas da Guerra Franco-Prussiana.

CURIOSIDADE - Seja como for, o químico Mège-Mouriès apresentou a margarina, em 1869, levando o prêmio de Napoleão III.

Fonte: http://cafeehistoria.blogspot.com/2009/07/arsenal-caseiros-utensilios-militares.html

by Charles

Por que muitos russos tem o nome terminado em "ov"?

Porque, em russo, esse sufixo indica a que família a pessoa pertence.

Gorbachov, por exemplo, faz parte da família Gorbach (Mikhail de Gorbach). E não é só o "ov" que indica a origem fami-liar. "Os sobrenomes masculinos terminam com ‘ov’ ou ‘ev’. Já os femininos terminam com ‘ova’, ‘eva’", diz a professora de russo Elena Vassina Nikolaevna, da USP.

É o caso da tenista Maria Sharapova - pertencente à família Sharap. Além dos "ov", "ev", "ova" e "eva", também são comuns, em russo, os sufixos "itch", "ovna" e "evna". "São sufixos do nome patronímico. Por exemplo, sou Elena Nikolaevna, quer dizer, Elena filha de Nikolai", diz a professora da USP.

A formação de sobrenomes de acordo com o patriarca é comum em vários idiomas, até mesmo em português: Rodrigues, por exemplo, indica os filhos de Rodrigo, e Gonçalves diz respeito aos filhos de Gonçalo. Apesar de que no Brasil, devido à intensa miscigenação, essa linhagem de nomes parecidos é rara.

Em inglês, ocorre a mesma coisa com o sufixo "son", que significa literalmente "filho": os Jackson são os filhos de Jack, assim como os Gibson são os filhos de Gib.

Na Escócia, o sufixo que indica filiação é o Mac - MacGregor, filho de Gregor -, enquanto na Irlanda é comum a designação O’ - O’Malleys, filho do Malleys.

Veja outros radicais comuns ao redor do mundo:

PAÍS - Rússia
SUFIXO - OV
SIGNIFICADO - "de"
NOME FAMOSO - Maria Sharapova (tenista)

PAÍS - Grécia
SUFIXO - POULOS
SIGNIFICADO - "filho de"
NOME FAMOSO - Constantino Stephanopoulos (ex-presidente da Grécia)

PAÍS - Suécia
SUFIXO - SON
SIGNIFICADO - "filho de"
NOME FAMOSO - Sven-Goran Eriksson (ex-treinador da seleção inglesa de futebol)

PAÍS - China
SUFIXO - LI
SIGNIFICADO - Cerejeira
NOME FAMOSO - Bruce Lee* (ator)

PAÍS - Japão
SUFIXO - MURA
SIGNIFICADO - Vila
NOME FAMOSO - Nakamura (jogador da seleção japonesa de futebol)

PAÍS - Itália
SUFIXO - UCCI
SIGNIFICADO - "descendente de"
NOME FAMOSO - Monica Bellucci (atriz)

PAÍS - Escócia
SUFIXO - MC
SIGNIFICADO - "de"
NOME FAMOSO - Nick McCarthy (guitarrista da banda Franz Ferdinand)

PAÍS - Espanha
SUFIXO - EZ
SIGNIFICADO - "filho de"
NOME FAMOSO - Hugo Chávez (presidente da Venezuela)

PAÍS - Polônia
SUFIXO - SKI ou OWSKI
SIGNIFICADO - "de"
NOME FAMOSO - Roman Polanski (cineasta)


* nos EUA, o sobrenome LI transformou-se em lee


Fonte: abril.mundoestranho.com.br

A Inquisição



O que foi a Inquisição?
Não, não foi um jogo de perguntas e respostas da idade média.

Foi um tribunal (Tribunal do Santo Ofício) criado pela Igreja Católica que perseguia, julgava e punia pessoas acusadas de se desviar de suas normas de conduta. Ela teve duas versões: a medieval, nos séculos XIII e XIV, e a feroz Inquisição moderna, concentrada em Portugal e Espanha, que durou do século XV ao XIX.

O Brasil nunca chegou a ter um tribunal desses, mas emissários da Inquisição aportaram por aqui entre 1591 e 1767. Calcula-se que 400 brasileiros foram condenados e 21 queimados em Lisboa, para onde eram mandados os casos mais graves. Os inquisidores portugueses fizeram 40 mil vítimas, das quais 2 mil foram mortas na fogueira. Na Espanha, até a extinção do Santo Ofício, em 1834, estima-se que quase 300 mil pessoas tenham sido condenadas e 30 mil executadas.

Veja como era o passo-a-passo desde a "captura" até a execução dos hereges:

I. O Julgamento

I.i. A Chegada da Inquisição

Um grupo de monges do Santo Ofício chegava à aldeia e reunia toda a população na igreja. No chamado Período de Graça, que durava um mês, convidavam os pecadores a admitirem suas heresias. Quem se confessasse, em geral se livrava das penas mais severas

I.ii As Investigações

Quem não aproveitasse o Período de Graça poderia ser denunciado. Como a Inquisição incentivava a delação, o pânico era generalizado: todos eram suspeitos em potencial. O acusado era convocado a se defender no tribunal

I.iii A Sentença

O suspeito era interrogado por três inquisidores. Um deles, o inquisidor-mor, dava a sentença final. A defesa era difícil: raramente o réu tinha direito a um advogado. Para arrancar confissões, o Santo Ofício colocava espiões no encalço do suspeito e recorria a tenebrosas práticas de tortura

II. As Torturas

II.i Escala de Punições

O inquisidor-mor variava a crueldade dos castigos conforme a heresia. Os mais leves incluíam deixar o acusado acorrentado, sem comer nem dormir por vários dias. Mas os relatos históricos registram outros bem mais dolorosos, como os aparelhos chamados potro e extensão. Para amedrontar os acusados, os carrascos faziam uma demonstração de como funcionavam esses dispositivos. Para abafar os gritos, era comum colocarem colchões nas portas


A. O Potro

O livro Prisioneiros da Inquisição traz a história de Jean Coustos, mestre da loja maçônica de Lisboa, condenado pelo tribunal. Coustos passou pelos horrores do potro em 1743: "Me prenderam com uma argola no pescoço, um anel de ferro em cada pé e oito cordas que passavam por furos no cadafalso. Ao sinal dos inquisidores, elas foram puxadas e apertadas pelos carrascos. As cordas entravam na carne até os ossos e faziam jorrar sangue. Repetiram a tortura por quatro vezes. Perdi a consciência e fui levado de volta à minha cela sem perceber"



B. A Extensão

Seis semanas depois, o maçom foi submetido a outra tortura: a extensão. "As cordas, puxadas por um torniquete, faziam com que os punhos se aproximassem um do outro, por trás. Puxaram tanto que as minhas mãos se tocaram. Desloquei os dois ombros e perdi muito sangue pela boca. Repetiram três vezes o mesmo tormento antes de me devolverem à cela". Nos meses seguintes, Coustos ainda sofreu mais uma série de torturas até confessar. Foi condenado a quatro anos de trabalhos forçados em 1744.

III. As Sentenças

III.i O Auto-de-fé

Assim era chamada a cerimônia pública em que se liam as sentenças do tribunal. Os autos-de-fé geralmente ocorriam na praça central da cidade e eram grandes acontecimentos. Quase sempre o rei estava presente. As punições iam das mais brandas (como a excomunhão) às mais severas (como a prisão perpétua e a morte na fogueira)

III.ii Queimados mortos... ou vivos

A execução na fogueira ficava a cargo do poder secular. Se o condenado renunciasse às heresias ao pé do fogo, era devolvido aos inquisidores. Se sua conversão à fé católica fosse verdadeira, ele podia trocar a morte pela prisão perpétua. Quando descobria-se que um defunto havia sido herético, seu cadáver era desenterrado e queimado

III.iii Marcas da Humilhação

Para serem vistos pelo público, os prisioneiros subiam em um palco. Os que eram obrigados a vestir as chamadas marcas de infâmia, como a cruz de Santo André, chegavam a ser agredidos pela multidão. Outros levavam velas e vergastas nas mãos para serem chicoteados pelo padre durante a missa


O mais desumano dos inquisidores

Fanático. Cruel. Intolerante. Nos registros históricos, não faltam adjetivos depreciativos para definir o frei dominicano Tomás de Torquemada (nome sugestivo) (1420-1498), o mais duro inquisidor de todos os tempos.

Organizador do Santo Ofício espanhol, ele era confessor e conselheiro dos reis Fernando e Isabel. Em 1483, essa influência rendeu-lhe a nomeação de inquisidor-geral, responsável pelos 14 tribunais na Espanha e suas colônias. Logo de cara, autorizou a tortura para obter confissões, ampliou a lista de heresias e pressionou os reis a substituir a tolerância religiosa pela perseguição aos judeus e aos conversos. Resultado: ao final de sua gestão, mais de 170 mil judeus foram expulsos da Espanha e 2 mil pessoas viraram cinza nas fogueiras.

Fonte: abril.mundoestranho.com.br

by Charles