quarta-feira, 7 de abril de 2010

**A Doutrina Espírita ou Espiritismo**

 O que vem a ser o Espiritismo 
Por: Claudia Zelini Diello
A Doutrina Espírita ou Espiritismo, segundo a definição de seu codificador, o pedagogo francês Hippolyte Léon Denizard Rivail (que adotou o pseudônimo Allan Kardec) é uma ciência que trata da natureza, origem e destino dos Espíritos, bem como de suas relações com o mundo corporal.

Nascida no século XIX, no dia 18 de Abril de 1857, com a publicação de O Livro dos Espíritos, se estruturou a partir de diálogos estabelecidos entre o e o que ele e muitos pesquisadores da época defendiam tratar-se de espíritos de pessoas falecidas a manifestarem-se por meio de médiuns.

Caracteriza-se pelo ideal de compreensão da realidade mediante a integração entre as três formas clássicas de conhecimento, que seriam a ciência, a filosofia e a moral. Segundo Rivail, cada uma delas, tomada isoladamente, tende a conduzir a excessos de ceticismo e negação.
A doutrina espírita se propõe, assim, a estabelecer um diálogo entre as três, visando à obtenção de uma forma original, a um só tempo mais abrangente e profunda, de se compreender a realidade.
A sua base doutrinária é o Livro dos Espíritos, primeira das chamadas obras básicas escritas por Rivail sob o pseudônimo Allan Kardec. Nesse livro, consta o resultado preliminar dos diálogos estabelecidos por ele em diversas reuniões mediúnicas com o que seriam espíritos denominados desencarnados (sem o corpo material).
A obra é dividida em 1018 tópicos no estilo pergunta–resposta, ordenados didaticamente pelo pedagogo. As questões levantadas em O Livro dos Espíritos serviram como base para os demais livros que compõem a Codificação espírita.
Cabe ressaltar que as doutrinas afro-descendentes como a Umbanda e o Candomblé, o Esoterismo, a Cartomancia, dentre outros, não fazem parte do Espiritismo (ou Doutrina Espírita), conforme comumente se pensa. Desta forma, o termo Kardecismo, popularmente criado, é um termo equivocado.
Segundo muitos de seus estudiosos a doutrina espírita é cristã, apesar de suas concepções teológicas bem diferenciadas no que diz respeito a conceitos como divindade, natureza humana, salvação, graça e destino.
Para os espíritas (nome dado aos seguidores do Espiritismo), Jesus Cristo se trata do espírito mais elevado a já ter encarnado na Terra, bem como o modelo de conduta para o auto-aperfeiçoamento humano, tendo provado, pela prática da caridade absoluta e pela sua própria encarnação, que o homem pode suportar as provas necessárias para a sua elevação espiritual.
Em todos os tempos da história da humanidade, refulgiram os raios da verdade e todas as religiões tiveram dela uma parte, mas as paixões e os interesses materiais velaram e desnaturaram logo toda a centelha da verdade, e o dogmatismo, a perseguição religiosa, os abusos de toda a espécie tornaram o homem indiferente e cético.
Assim o materialismo espalhou-se e corrompeu o caráter, alterando consciências. Mas, a voz dos Espíritos, a voz dos mortos, fez se ouvir, e a verdade surgiram novamente da sombra, mais bela e mais radiante do que nunca. E a morte deixou de ser coisa espantosa, porque detrás dela vemos a reencarnação.
Assim nasceu o Espiritismo: ciência experimental e filosofia moral. Esclarecendo o passado e iluminando as antigas doutrinas espiritualistas, e a doutrina secreta do passado está no fundo de todas as grandes religiões e nos livros sagrados de todos os povos, desde a primitiva Índia, o antigo Egito, a Grécia (que introduziu a Europa na luz do belo) e a Gália, que conheceu a grande doutrina sob forma original e poderosa, até os dias presentes.
No entanto, grande parte da força do Espiritismo deve-se à formulação dum corpo de doutrina, ou seja, a parte filosófica, a parte científica e a parte moral.
A obra dos Espiritistas é, portanto, o resumo dos ensinamentos dos Espíritos, recolhidos por um número considerável de grupos espalhados sobre todos os pontos da Terra. Eles fizeram o Espiritismo descer das alturas abstratas e tornarem-se simples, popular e acessível a todos, demonstrando a persistência da vida além da morte, trazendo a esperança, o conforto e a luz para aqueles que sofrem.
No livro O Evangelho Segundo o Espiritismo, Allan Kardec publicou uma mensagem que afirmou ser um resumo do verdadeiro caráter do Espiritismo, mensagem esta que foi psicografada por um de seus médiuns, e teve como assinatura o nome de O Espírito de Verdade:
“Os Espíritos do Senhor, que são as virtudes dos Céus, qual imenso exército que se movimenta ao receber as ordens do seu comando, espalham-se por toda a superfície da Terra e, semelhantes a estrelas cadentes, vêm iluminar os caminhos e abrir os olhos aos cegos.
Eu vos digo, em verdade, que são chegados os tempos em que todas as coisas hão de ser restabelecidas no seu verdadeiro sentido, para dissipar as trevas, confundir os orgulhosos e glorificar os justos.
As grandes vozes do Céu ressoam como sons de trombetas, e os cânticos dos anjos se lhes associam. Nós vos convidamos, a vós homens, para o divino concerto. Tomai da lira, fazei uníssonas vossas vozes, e que, num hino sagrado, elas se estendam e repercutam de um extremo a outro do Universo.
Homens, irmãos a quem amamos, aqui estamos junto de vós. Amai-vos, também, uns aos outros e dizei do fundo do coração, fazendo as vontades do Pai, que está no Céu: Senhor! Senhor!... e podereis entrar no reino dos Céus.” 
O Espírito de Verdade

Princípios
Allan Kardec, em "Obras Póstumas", propõe que o espiritismo seja uma doutrina natural, passível de ser interpretada ou não como religião pelos homens, isto é, capaz de colocar o homem – ou o espírito – diretamente em relação com Deus.
A doutrina espírita, de modo geral, fundamenta-se nos seguintes pontos:
•Na existência e unicidade de Deus, desconstruindo o dogma da Santíssima Trindade;
•Na existência e imortalidade do espírito, compreendido como individualidade inteligente da Criação Divina;
•Na defesa da reencarnação como o mecanismo natural de aperfeiçoamento dos espíritos;
•No conceito de criação igualitária de todos os espíritos, "simples e ignorantes" em sua origem, e destinados invariavelmente à perfeição, com aptidões idênticas para o bem ou para o mal, dado o livre-arbítrio;
•Na possibilidade de comunicação entre os espíritos encarnados ("vivos") e os espíritos desencarnados ("mortos"), por meio da mediunidade;
•Na Lei de Causa e Efeito, compreendida como mecanismo de retribuição ética universal a todos os espíritos, segundo a qual nossa condição é resultado de nossos atos passados;
•Na pluralidade dos mundos habitados, a idéia de que a Terra não é o único planeta com vida inteligente no universo.
Além disso, podem-se citar como características secundárias:
•A noção de continuidade da responsabilidade individual por toda a existência do Espírito;
•Progressividade do Espírito dentro do processo evolutivo em todos os níveis da natureza;
•Volta do Espírito à matéria (reencarnação) tantas vezes quantas necessárias para alcançar a perfeição. Os espíritas não crêem na metempsicose.
•Ausência total de hierarquia sacerdotal;
•Abnegação na prática do bem, ou seja, não se deve cobrar pela prática da caridade nem o fazer visando a segundas intenções;
•Uso de terminologia e conceitos próprios, como, por exemplo, perispírito, Lei de Causa e Efeito, médium, Centro Espírita;
Total ausência de culto a imagens, altares.
•Ausência de rituais institucionalizados, a exemplo de batismo, culto ou cerimônia para oficializar casamento;
•Incentivo ao respeito para com todas as religiões e opiniões.
 
Embora a Doutrina Espírita não seja oriunda do Brasil, este é o país que possui a maior quantidade de adeptos.
 A Federação Espírita Brasileira, que integra o Conselho Espírita Internacional, é a principal entidade divulgadora da Doutrina Espírita no Brasil.
Outra organização de vulto é a Confederação Espírita Pan-Americana. Esta última não concebe o espiritismo como religião, centrando-se apenas nos seus aspectos filosóficos e científicos.

Doutrina espírita e cristianismo
 
Os espiritistas (tradução muito usada durante as primeiras décadas do século XX para o neologismo francês spirite) ou espíritas, afirmam-se cristãos e atribuem à doutrina espírita o caráter de uma doutrina cristã, já que seguem os ensinamentos morais de Jesus.
Entretanto, essa associação entre o espiritismo e o cristianismo é contestada pelas religiões de matriz judaico-cristã, sob a alegação de que, embora partilhem de valores morais semelhantes, a rejeição espírita a diversos dogmas bíblicos e teológicos preconizados por elas inviabilizaria a conceituação do espiritismo como cristão.
Os espíritas fundamentam sua defesa do caráter cristão da doutrina espírita no fato de Allan Kardec defender que a moral cristã, isenta dos dogmas de fé a ela associados, seria o que de mais próximo a um código de ética divino e racional o homem possuí.
Os espíritas argumentam que os dogmas foram elaborados ao longo dos séculos pela Igreja Católica, não sendo, por isso, necessário segui-los para ser cristão. Além disso, o item 625 de O Livro dos Espíritos afirma ser Jesus o maior exemplo moral de que dispõe a humanidade, apesar de o espiritismo negar a ele qualquer caráter efetivamente divino.
A Profª Dora Incontri, pós-doutorada pela Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo, também defende o caráter cristão da doutrina espírita, apontando, na proposta estruturada por Allan Kardec, um novo modelo de religião, alheio a dogmas, fórmulas, hierarquias sacerdotais e baseado eminentemente no aspecto ético-moral do indivíduo. Considera ainda Jean-Jacques Rousseau e Johann Heinrich Pestalozzi como os dois grandes precursores da idéia de uma "religiosidade natural", predominantemente moral, e defende que "evidenciou-se com a publicação de "O Evangelho segundo o Espiritismo" e de "O Céu e o Inferno" que, embora não o confessasse, ele [Kardec] estava fazendo uma nova leitura do Cristianismo".
Um estudioso da religiosidade brasileira mais cético, o Prof. Antônio Flávio Pierucci, do Departamento de Sociologia da Universidade de São Paulo, centra sua análise em aspectos sociológicos ao defender que o espiritismo não é uma religião legitimamente cristã. Segundo ele, os espíritas utilizam o cristianismo para se legitimarem. Pierucci defende também que o vínculo com a Igreja Católica, defendido pelos espíritas serviu, durante décadas, para lutar contra a discriminação e a intolerância. 

O conceito bíblico

As religiões de matriz judaico-cristã entendem que, com a Lei dada a Moisés no Antigo Testamento, Deus interditou à antiga Israel as comuniçações com o mundo dos espíritos e o uso de poderes sobrenaturais por eles concedidos. "… não haverá no meio de ti ninguém que faça passar pelo fogo seu filho ou sua filha, que interrogue os oráculos, pratique adivinhação, magia, encantamentos, enfeitiçamentos, recorra à adivinhação ou consulte os mortos (necromancia)" (Deuteronômio 18:10-14). Afirmam ainda que essa proibição é confirmada no Novo Testamento, pelas referências contidas nos Evangelhos e no livro de Atos dos Apóstolos aos "espíritos impuros". A citação do apóstolo Paulo em Gálatas 5:20, afirma que quem pratica "feitiçaria" (ou bruxaria, o termo grego usado é farmakía) … não herdará o Reino de Deus". (Na Tradução do Novo Mundo das Escrituras Sagradas, o termo é vertido por "espiritismo". Mas esta aplicação da palavra não se refere, por óbvias razões cronológicas, à doutrina espírita). É comum encontrar referências ao uso do termo Espiritismo para denominar outras doutrinas e cultos que não sejam aquela codificada por Allan Kardec.
Já para a doutrina espírita, a Bíblia não condena a prática mediúnica em si, pois esta seria fundamentada em um fenômeno natural. A condenação bíblica, que também encontra apoio no movimento espírita, é a uso dos recursos mediúnicos para finalidades frívolas ou voltadas ao benefício próprio. Segundo ela, diversas passagens bíblicas exemplificariam a fenomenologia mediúnica, a exemplo de I Samuel 9:9, II Crônicas 16:7, e Mateus 17:1-8.
Ao mesmo tempo, a postura analítica da Doutrina Espírita propõe que se avaliem os textos bíblicos, quando verdadeiramente originais, de forma crítica, levando em conta o seu patamar simbólico, em função dos recursos vocabulares e figuras de linguagem disponíveis à época, em ensinamentos dirigidos a um povo simples e sem repertório, e, consequentemente, desprovido das complexidades e riquezas lingüística, cultural e material necessárias para a compreensão de conceitos que nem mesmo o homem atual, como todas as suas aquisições intelectuais, é capaz de compreender em toda a sua profundidade.

O diálogo com as religiões

A posição oficial da Igreja Católica proíbe terminantemente aos seus fiéis assistir a sessões mediúnicas realizadas ou não com auxílio de médiuns espíritas - mesmo que estes pareçam ser honestos ou piedosos - quer interrogando os espíritos e ouvindo suas respostas, quer assistindo por mera curiosidade. Posições similares têm as religiões evangélicas.
No entanto, a Igreja Católica não nega a possibilidade física de comunicação com entidades espirituais. Em pesquisas recentes, sob a tutela do Papa João Paulo II, o Padre François Brune publicou o livro Os Mortos nos Falam, em que defende a realidade das comunicações com os espíritos. Além disso, principalmente no Brasil, é possível observar uma maior tolerância por parte de muitos leigos católicos às práticas mediúnicas.
Atualmente, muitas comunidades evangélicas, apesar de não concordarem com os preceitos teológicos e filosóficos do espiritismo, têm procurado, da mesma forma, manter com este uma relação respeitosa, por reconhecer nos trabalhos sociais desenvolvidos pelas casas espíritas uma atividade séria e comprometida. Algumas, inclusive, têm buscado uma aproximação concreta com as instituições espíritas, seja por meio da realização de cultos ecumênicos, seja através do diálogo inter-religioso.
A doutrina espírita, por sua vez, respeita todas as religiões e doutrinas, valoriza todos os esforços para a prática do bem e trabalha pela confraternização e pela paz entre todos os povos e entre todos os homens. Pois o Espiritismo tem como máxima a frase "Fora da caridade não há salvação" o que significa que, em sendo benevolente e caridoso, qualquer um será gratificado, independentemente da sua crença.
“ O Espiritismo será a religião do amanhã, porque prova a sobrevivência da alma.”
Monteiro Lobato

Contexto
Durante o século XIX houve uma grande onda de manifestações mediúnicas nos Estados Unidos e na Europa. Estas manifestações consistiam principalmente de ruídos estranhos, pancadas em móveis e objetos que se moviam ou flutuavam sem nenhuma causa aparente. Entre eles destacou-se o caso das Irmãs Fox, nos EUA.
Em 1855, o professor Denizard Rivail, que depois adotou o pseudônimo de Allan Kardec, lançou-se à investigação do fenômeno, bastante comum à época, das mesas girantes ou dança das mesas, em que mesas e objetos em geral pareciam animar-se de uma estranha vitalidade. Inicialmente cético, chegou a afirmar: "Eu crerei quando vir e quando conseguirem provar-me que uma mesa dispõe de cérebro e nervos, e que pode se tornar sonâmbula; até que isso se dê, dêem-me a permissão de não enxergar nisso mais que um conto para dormir em pé". Após dois anos de pesquisas, não viu constatação de fraudes e nem um motivo para englobar todos os acontecimentos dessa ordem no âmbito das falácias e/ou charlatanices. Pessoalmente convencido não só da realidade do fenômeno, que considerou essencialmente real apesar das mistificações existentes, mas também da possibilidade dele ser causado por espíritos, Rivail deu um passo adiante: em lugar de dedicar o resto de sua vida à busca por "provar cientificamente" a explicação mediúnica para os fenômenos, procurou extrair da possibilidade de que fossem causados pela ação de espíritos algo de útil para a humanidade.
A robusta formação humanística por que passara, bebendo diretamente de Pestalozzi, discípulo dileto de Rousseau, não poderia limitá-lo a uma pesquisa meramente naturalista. A necessidade de dar algum suporte à espiritualidade humana numa época em que a ciência avançava a passos largos e as religiões perdiam cada vez mais adeptos despertou em Kardec a idéia de um novo modo de pensar o real, que unisse, de forma ponderada, a ascendente Ciência e a decadente Religião, mediadas pela racionalidade filosófica. Assim, Kardec fez uso do empirismo científico para investigar os fenômenos, da racionalidade filosófica para dialogar com o que presumiu serem espíritos e analisar suas proposições, e buscou extrair desses diálogos conseqüências ético-morais úteis para o ser humano. Surgia aí, mais precisamente em 18 de abril de 1857, a doutrina espírita, sistematizada na primeira edição de O Livro dos Espíritos.

Primeiras observações
Os fenômenos mediúnicos são universais e sempre existiram, inclusive fartamente relatados na Bíblia, mas os espíritas e muitos outros defensores da explicação mediúnica para os chamados "fenômenos sobrenaturais" ou "paranormais" adotam a data de 31 de março de 1848 como o marco inicial das modernas manifestações mediúnicas, alegadamente mais ostensivas e freqüentes do que jamais ocorrera, o que levou muitos pesquisadores a se debruçarem sobre tais fenômenos. Afirmam, contudo, que acontecimentos envolvendo espíritos (pessoas que já morreram) existem desde os primórdios da humanidade.
Entre outros, citam como exemplo os comentários de Platão ao falar sobre o dáimon ou gênio que acompanharia Sócrates; a proibição de Moisés à prática da "consulta aos mortos", que seria uma evidência da crença judaica nessa possibilidade, já que não se interdita algo irrealizável; e a comunicação de Jesus com Moisés e Elias no Monte Tabor, citada em Mt, 17, 1-9.

Estudo sobre as mesas girantes
Segundo os biógrafos, Allan Kardec foi convidado por Fortier, um amigo estudioso das teorias de Mesmer, a verificar o fenômeno das mesas girantes com a disposição de observar e analisar os fenômenos que despertavam curiosidade no século XIX.
As primeiras manifestações tidas como mediúnicas aconteceram por meio de mesas se levantando e batendo, com um dos pés, um número determinado de pancadas e respondendo, desse modo, sim ou não, segundo fora convencionado, a uma questão proposta.
Kardec, em analisando esses fenômenos, concluiu que não havia nada de convincente neste método para os céticos, porque se podia acreditar num efeito da eletricidade, cujas propriedades eram pouco conhecidas pela ciência de então. Foram então utilizados métodos para se obter respostas mais desenvolvidas por meio das letras do alfabeto: o objeto móvel, batendo um número de vezes correspondenteria ao número de ordem de cada letra, chegando, assim, a formular palavras e frases respondendo às perguntas propostas.
Kardec concluiu que a precisão das respostas e sua correlação com a pergunta não poderiam ser atribuídas ao acaso. O ser misterioso que assim respondia, quando interrogado sobre sua natureza, declarou que era um espírito ou gênio, deu o seu nome e forneceu diversas informações a seu respeito.

Fenômenos espíritas e a ciência
A investigação dos fatos e causas do fenômeno mediúnico é objecto de estudo pela Pesquisa Psíquica, ramo da parapsicologia (substituindo a metapsíquica), que tem como interesse fundamental a averiguação da ocorrência dos aludidos fatos. Vêm fazendo-se investigação séria e científica, e por vezes, em nível universitário, mas até o momento sem qualquer evidência científica reprodutível. Também, a doutrina espírita utiliza uma metodologia científica própria, sem o rigor científico habitual e baseada muitas vezes em evidências anedóticas.
Kardec, no preâmbulo de O que é o Espiritismo, afirma que o espiritismo "é uma ciência que trata da natureza, origem e destino dos espíritos, bem como de suas relações com o mundo corporal". Dentro dessa perspectiva, Kardec teria fundado a "ciência espírita", tendo como objeto o espírito e toda a ordem de fenômenos que a ele dizem respeito. Na Revista Espírita, que publicou até sua morte, analisa vários relatos de fenômenos aparentemente mediúnicos ou sobrenaturais oriundos de diversas partes do mundo. Procurava distinguir, entre os relatos que lhe chegavam, os acontecimentos prováveis, ou pelo menos verossímeis, daqueles oriundos do charlatanismo ou da simples imaginação superexcitada.
Durante o século XIX, uma controversa forma de evidenciar a existência de espíritos era a chamada fotografia espírita, que obteve sucesso especial na Inglaterra, nos Estados Unidos e na França. Fotógrafos amadores e profissionais dedicavam-se a ela, fosse com o intuito de desmascarar o que consideravam ser uma fraude, fosse para demonstrar a autenticidade do fenômeno. Apesar das muitas fraudes existentes, casos famosos como o do americano Mumler suscitam até hoje debates entre investigadores.
Para além dos aspectos doutrinários, existe uma diversidade de práticas que vêm suscitando nas últimas décadas uma crescente curiosidade - a ectoplasmia, psicocinesia, psicofonia, psicometria, levitação, telepatia, clarividência, precognição, via onírica (sonhos), psicografia, arte mediúnica, medicina e cirúrgia mediúnica, apometria, radiestesia e rabdomancia. Mesmo após extensas investigações científicas, e debunks por James Randi, Harry Houdini e outros, nenhum desses fenômenos foi rigorosamente referendado até hoje pela metodologia científica.

“    Faz 50 anos que os espíritas sabem o que a ciência hoje pretende descobrir.    ”
Léon Denis - discurso no Congresso Espírita de Liege (Bélgica) em 1905.

“O Espiritismo é uma ciência que desvenda todo um mundo de mistérios, que torna patentes as verdades eternas.”
Gabriel Delanne

Bibliografia
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•    CASTELLAN, Yvonne. Le Spiritisme. 5º ed. Paris, Presses Universitaires de France, 1974.
•    CHIBENI, Silvio Seno. O paradigma espírita, 1994.
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•    DOYLE, Arthur Conan. História do Espiritismo. São Paulo, Ed. Pensamento, 1960.
•    INCONTRI, Dora. Pedagogia Espírita, um Projeto Brasileiro e suas Raízes. Bragança Paulista, Comenius, 2004.
•    LAPLANTINE François e AUBRÉE Marion. La table, le livre et les Esprits - Naissance, évolution et actualité du mouvement social spirite entre France et Brésil. Paris, Ed. Lattès, 1990.
•    PESOLI, Fabrizio. Aspetti della ricerca scientifica sullo spiritismo in Italia (1870-1915), Università degli Studi di Milano 1999. 1
•    STOLL, Sandra. Entre Dois Mundos: o Espiritismo da França no Brasil. Tese de doutorado, São Paulo, USP, 1999.
•    RANDI, James. The Faith Healers. Prometheus Books, 1989

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